Quando se fala em agenda ESG (ambiental, social e de governança), a cobrança por adoção de boas práticas logo recai sobre governos e empresas. Deles, a sociedade passou a cobrar uma atuação mais responsável em frentes como gestão adequada de resíduos, uso racional de recursos naturais, substituição de materiais virgens por recicláveis, entre outras demandas. Cobrança legítima, necessária e urgente. Mas e o consumidor? A parte que lhe cabe nesse latifúndio é pouco discutida e ganha uma dimensão ainda maior neste próximo mês em que a Black Friday e o Natal são um convite quase irrecusável ao consumo desenfreado.
Vale uma ressalva. Consumir não é um problema. Ao contrário. A demanda provoca a oferta e faz a economia girar, gerando mais renda e criando um ciclo econômico virtuoso. O que está sendo colocado em xeque é o modelo de consumo, assim como o modelo produtivo. Veja: em dias normais o brasileiro produz, em média, 1 kg por dia. Mas, segundo pesquisa realizada pela Green Alliance, cerca de 80% dos itens comprados na Black Friday acabam sendo descartados em aterros sanitários. Lixo emite gás carbônico e gás metano, os principais responsáveis pelo aquecimento do planeta, além de poluir o meio ambiente prejudicando a manutenção da biodiversidade da terra.
Um exemplo recente dos impactos do consumo desenfreado correu o mundo nesta semana: a imagem de um grande lixão de roupas usadas se formou em pleno Deserto do Atacama. Uma montanha que cresce ao ritmo anual de 59 mil toneladas de mercadorias da tal moda fast fashion. São blusas, calças e toda a sorte de peças feitas de materiais que misturam algodão e tecidos sintéticos que podem levar mais de 200 anos para se decompor deixando resíduos tóxicos no solo, água e ar.
Como se diz que uma imagem é melhor do que mil palavras, antes de aproveitar as ruidosas promoções — nem sempre reais — já tradicionais do fim do ano, vale o cidadão olhar para as suas reais necessidades de consumo e lembrar que a cada compra que faz contribui também para o esgotamento do planeta.