A avaliação da inteligência dos militares é que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm se dividido entre dois grupos: um que apoia a ida ao desfile, em Brasília, para vaiar Lula e as Forças Armadas, e outro que considera mais adequado esvaziar o evento, como um recado de que o petista não tem apoio popular como tinha o antecessor.

Segundo relatos de militares e integrantes da Segurança à reportagem, nenhuma grande liderança do bolsonarismo se manifestou publicamente ou em grupos de mensagens monitorados favoravelmente ao protesto contra o petista.

O risco de tumulto, de acordo com a análise de momento, é considerado baixo.

O monitoramento é uma prática das forças de segurança nas vésperas de grandes eventos. O trabalho, porém, foi intensificado após os ataques às sedes dos Poderes e as acusações de que os órgãos demoraram para perceber a gravidade dos atos antidemocráticos que se formavam nos dias que antecederam o 8 de janeiro.

As manifestações de grupos de mensagens e redes sociais identificadas pelos militares mostram que bolsonaristas não estão insatisfeitos somente com Lula. Nas mensagens, os apoiadores do ex-presidente dizem que as Forças Armadas merecem “sentir o desprezo” durante os desfiles.

“Neste 7 de setembro, os verdadeiros patriotas deveriam ir usando roupas pretas (luto) e na hora do desfile da tropa, virarem as costas. Se não isso, que não fosse ninguém pra eles sentirem a vergonha do desprezo por terem sido traidores da pátria”, disse um bolsonarista em publicação nas redes sociais.

O teor da mensagem é igual à de Leandro Ruschel, influenciador bolsonarista. “Uma ideia para o 7 de setembro: todo mundo na rua, DE PRETO!”, escreveu, em outra publicação monitorada.

De outro lado, um vídeo que circula nos grupos de mensagens de bolsonaristas defende que o melhor protesto para o Dia da Independência é esvaziar o ato na Esplanada dos Ministérios, para comparar o público de 2023 com os da gestão Bolsonaro.

“Sete de Setembro, não saia da sua casa. Lembra da pandemia, o fique em casa? Agora é a nossa vez. Em 7 de setembro, fique em casa. Nós, patriotas, não temos memória curta e o nosso conceito sobre quem nos defende, hoje, mudou. Igual o 7 de setembro de 2022 nunca eles vão conseguir fazer. Esse é o nosso momento”, diz o vídeo.

Outro bolsonarista afirmou que a manifestação precisa ocorrer no 7 de setembro de forma espontânea, sem a organização de lideranças políticas.

A Secretaria de Segurança Pública do DF está na fase final de definição do planejamento de segurança para o desfile. As regras discutidas envolvem o controle de acesso à Esplanada, com gradis nas entradas laterais e linhas de revista das pessoas que entrarem no espaço.

O público esperado é de 30 mil a 40 mil pessoas —número menor que os 100 mil que eram esperados em 2022, quando foi comemorado o Bicentenário da Independência.

As estruturas para o palco e as arquibancadas já foram montadas por uma empresa contratada pelo governo federal. Elas ocupam metade da via que sobe a Esplanada dos Ministérios. As instalações custaram R$ 3 milhões.

O Comando Militar do Planalto, responsável por organizar o desfile, planeja fazer dois ensaios antes do evento. O primeiro está previsto para 2 de setembro e o segundo para o dia 6.

Procurado, o Exército afirmou que somente a Secom (Secretaria de Comunicação) pode dar detalhes sobre o desfile do Dia da Independência. A pasta de Paulo Pimenta, porém, não respondeu aos questionamentos da reportagem.

O governo Lula pretende mudar o perfil do desfile cívico-militar de 7 de setembro. A data foi utilizada por Bolsonaro para atacar ministros do Supremo Tribunal Federal em 2021 e como comício em 2022.

Generais ouvidos pela reportagem reclamaram que o desfile do último ano, em que foi comemorado o Bicentenário, tenha sido marcado pelos gritos de “imbrochável” do ex-presidente e seus apoiadores.

O evento deste ano não terá espaço para discursos. A única fala pública de Lula no evento será a tradicional autorização dada pelo presidente ao comandante do Planalto, general Ricardo Carmona, para iniciar o desfile.

O presidente ainda fará uma declaração em cadeia nacional de rádio e TV em comemoração à data.

Em 2022, Bolsonaro combinou com apoiadores para deixarem um carro de som do outro lado da Esplanada dos Ministérios, à espera do fim do desfile, para que ele pudesse aproveitar a presença de seus apoiadores para discursar às vésperas da eleição.

Nos dois últimos anos da gestão Bolsonaro, o Dia da Independência ficou marcado pelo temor de caminhoneiros invadirem o STF.

Dezenas de caminhões romperam os cordões de isolamento e invadiram a Esplanada em 8 de setembro de 2021 —um dia após Bolsonaro pregar a desobediência à Justiça.

A retirada dos caminhões só foi possível após horas de negociações, com a pressão de ministros do STF contra o governador Ibaneis Rocha (MDB).

No ano seguinte, Bolsonaro chegou a mandar que o Exército autorizasse a entrada de caminhões na Esplanada na véspera do Dia da Independência. A Força chegou a cadastrar cerca de 60 automóveis para estacionar os veículos a metros do STF.

Ibaneis, porém, proibiu a ação. “Não vai entrar [nenhum caminhão]. A segurança é do Governo do Distrito Federal. Eles só vão entrar se for por ato de força, o que não vamos permitir”, disse à época.