Um levantamento inédito da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) obtido com exclusividade por VEJA revelou que março de 2021 foi o pior mês da pandemia nos hospitais da rede privada brasileira. Em março, a taxa de mortalidade de pacientes com Covid-19 chegou a 15,1%, superando o índice de 14,9% de agosto de 2020, até então o pior mês desde o início da pandemia no país.
Os dados revelam o comportamento da pandemia no ano de 2020 e no primeiro trimestre de 2021, as mudanças no perfil do paciente internado e os reflexos nos principais indicadores do setor. Eles fazem parte de dois documentos, o Observatório Anahp 2021 e a 6ª Nota Técnica do Observatório, que serão lançados na quarta-feira, 26.
Também no mês de março a incidência de Covid-19 em pacientes atendidos no pronto-socorro registrou a maior taxa observada desde o início da pandemia no Brasil: 45,3%. Até então, o recorde havia sido registrado no mês de dezembro, quando o índice de pacientes com suspeita de Covid-19 atendidos no pronto-socorro que tiveram o diagnóstico confirmado chegou a 37,8%.
Aumento no tempo de internação
Como observado em outras pesquisas, hospitais da rede privada brasileira notaram uma alteração nas características da doença no início deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre pacientes com Covid-19 de 45 a 89 anos, houve um aumento de mais de seis dias na média de permanência no hospital no primeiro trimestre de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020. Entre os associados da Anahp, os maiores picos de ocupação de leitos exclusivos para pacientes com Covid-19, desde o início da pandemia, também ocorreram neste ano, entre março e maio.
Antes da pandemia, a média de permanência de pacientes em geral nos hospitais associados vinha apresentando tendência de queda entre 2017 (4,27) e 2019 (4,04). Mas isso mudou. Em 2020, o período aumentou para 4,59 dias e no primeiro trimestre de 2021, essa média subiu para 5 dias.
Taxa de ocupação de leitos
Ao contrário de todas as expectativas, em 2020, ao mesmo tempo em que crescia o número de pacientes contaminados pelo novo coronavírus, os hospitais privados viam cair a ocupação de leitos. A taxa, que se mantinha acima de 75% entre 2017 e 2019, ficou em 67,59% em 2020. “A queda foi causada, principalmente, pela recomendação de adiamento de procedimentos eletivos nos meses iniciais da pandemia em 2020 e pelo receio da população de sair de casa, até mesmo para dar continuidade aos tratamentos de doenças crônicas e, infelizmente, até para condições agudas de gravidade”, explica Ary Ribeiro, editor do Observatório e da Nota Técnica do Observatório da Anahp e CEO do Sabará Hospital Infantil.
Ainda não há dados sobre este ano, mas acredita-se que a taxa de ocupação tenha voltado a subir, já que muitos hospitais chegaram a sua capacidade máxima de internação quase que exclusivamente atendendo a pacientes com Covid-19. Outro dado interessante do levantamento é que de janeiro a março deste apenas as internações relacionadas a doenças respiratórias e infecciosas, onde está classificada a Covid-19, apresentaram aumento em comparação com o mesmo período do ano passado. As hospitalizações por todas as outras causas tiveram queda, com destaque para as doenças do aparelho digestivo e circulatório.
“O Observatório Anahp e a 6ª Nota Técnica do Observatório consolidam os cenários que acompanhamos ao longo do último ano e, a partir dos picos de internação de pacientes Covid, mostram a tendência para 2021. Na análise, podemos concluir que este ano continuará sendo muito desafiador para os sistemas de saúde e os hospitais em geral, com perspectivas de ‘ondas’ de Covid-19, impactando a taxa de ocupação e o perfil epidemiológico e, consequentemente, as despesas e a receita dos hospitais privados. A evolução da pandemia no Brasil em 2021 tem no ritmo da cobertura vacinal a principal variável, que pode impactar na redução do número de casos e de óbitos”, finaliza Ribeiro.