ÃO PAULO (Reuters) – O dólar saltava nesta segunda-feira, chegando a superar a marca de 5,15 reais em meio à disparada internacional da moeda norte-americana, que era impulsionada pela perspectiva de endurecimento da política monetária do Federal Reserve e temores de uma desaceleração econômica global.
A moeda chegou a tocar os 5,1587 reais na venda nos primeiros minutos de negociação, alta de 1,68%. Caso mantivesse esse patamar até o fim do pregão, teria registrado um pico para encerramento desde 17 de fevereiro (5,1668 reais).
Na B3, às 10:27 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,92%, a 5,1635 reais.
O salto do dólar nesta segunda-feira era generalizado, com poucas das principais divisas globais sendo poupadas do rali. Peso mexicano, peso chileno, dólar australiano e rand sul-africano, alguns dos principais pares arriscados do real, por exemplo, perdiam de 0,4% a mais de 1% no dia.
Contra uma cesta de seis rivais de países ricos, a divisa norte-americana tinha queda de 0,2%, mas ainda estava próxima de um pico em duas décadas atingido mais cedo nesta segunda-feira. O patamar elevado do índice do dólar acompanhava a disparada dos rendimentos dos títulos soberanos referenciais dos Estados Unidos, que estavam acima de 3% e atingiram seu maior patamar em três anos e meio.
Enquanto isso, no mercado de ações, os futuros dos principais índices de Wall Street apontavam fortes perdas nesta sessão, depois de uma abertura também negativa nas bolsas europeias. [.NPT] [.EUPT]
Por trás desses movimentos mais avessos ao risco, os “mercados reagem a temores de desaceleração econômica e aperto monetário”, explicou em relatório o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.
Na semana passada, o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, elevou os juros em 0,5 ponto percentual, a dose de aperto mais forte em mais de duas décadas, à medida que busca domar uma inflação persistente. O Fed já havia subido os juros em março, embora a ritmo mais tímido, de 0,25 ponto.
Agora, crescem nos mercados apostas em postura ainda mais agressiva da autoridade monetária, com a maioria dos operadores antevendo aumento de 0,75 ponto nos custos dos empréstimos no mês que vem.
“Ainda que uma aceleração do ritmo de alta da taxa de juros não esteja no plano de voo do Fed, como foi reforçado (pelo chair do Fed, Jerome) Powell na semana passada, ainda há dúvidas sobre o tamanho do ciclo de alta, e os dados mais fortes de atividade e inflação podem sugerir um ciclo mais extenso do que o previsto anteriormente”, afirmou o Bradesco.
Juros mais altos nos EUA tendem a frear o consumo, o que desaceleraria o crescimento econômico num contexto global muito desafiador, à medida que a guerra na Ucrânia se arrasta e a China continua firme em sua política de tolerância zero no combate à Covid-19.
Colaborando para a aversão a risco dos mercados nesta segunda-feira, dados mostraram que o crescimento das exportações chinesas desacelerou a um dígito, nível mais fraco em quase dois anos, elevando a perspectiva de uma recessão na maior economia do mundo, o que poderia contaminar a atividade de vários outros países.
A moeda norte-americana à vista já vem de uma sequência de duas altas diárias consecutivas, depois de fechar a última sessão, na sexta-feira, a 5,0733 reais, maior valor para um encerramento desde 16 de março (5,0917 reais). Essa cotação, por sua vez, marcou a terceira valorização semanal seguida do dólar.
Jefferson Rugik, diretor-executivo da Correparti Corretora, disse que esta semana também “promete ser de forte volatilidade e amplitude, com comentários de diversos ‘Fed Boys’ (autoridades do banco central dos EUA) e de novos dados de inflação nos Estados Unidos”.
Na quarta-feira, será divulgada a leitura de abril do índice de preços ao consumidor norte-americano, que será seguida, na quinta, de dados sobre a inflação ao produtor.