Eleição para vereador, em Goiânia, não se ganha por menos de R$ 2 milhões

Nos mais de 30 anos que faço cobertura das eleições, sempre tive a curiosidade para saber como os  vereadores, alguns desconhecidos do eleitor e não figuram em destaque nas pesquisas,  conseguem se eleger. Em 6 de outubro 690 candidatos de 27 partidos buscarão uma cadeira no legislativo da capital.

Em Goiânia o eleitorado é de 1.032.004. Para ser eleito diretamente a conta é facil. É so dividir o numero de eleitores pelas 37 vagas, O resultado é que para não depender de votos de outros candidatos, para ser eleito diretamente,  são necessários aproximadamente 27 mil votos, algo quase  incansável. Então aqueles candidatos,  que mais se aproximam deste numero são eleitos.

Em  2017 o TSE acabou com as coligações, quando vários partidos se uniam e somavam votos para eleger um candidato. Foi criada a Federação, quase uma coligação. A diferença é que nas coligações,  partidos se uniam apenas para uma eleição. Já a Federação impõe que os partidos participantes devem  manter a união por no mínimo quatro anos.

Até 2017 os cargos pertenciam aos políticos. A partir daquele  ano, os mandatos passaram a pertencerem  aos partidos nas chamadas eleições proporcionais.

O que é uma eleição proporcional?

As eleições proporcionais envolvem a disputa pelos cargos de deputado federal, deputado estadual ou distrital e vereador. Desde 2017, não é possível eleger representantes por meio de coligações partidárias para esses cargos.

Nesse sistema, os votos são dados ao partido ou à federação partidária.  Por isso, o mandato pertence à legenda e não à candidata ou ao candidato. E são os partidos que distribuem os votos para qual candidato quiser.  Quanto mais votos um partido receber, mais vagas ele vai ter – por essa razão, o sistema é chamado “proporcional”.

Nas ultimas eleições, em  2020, o candidato mais votado foi Isaias Ribeiro que teve 9.323 votos. O eleito numero 35 foi  Leo Jose obteve apenas  1.779 votos.  Vários outros candidatos tiveram votos bem acima de Leo José e não foram eleitos. Mas onde acontece a magica?  Como os votos pertencem aos partidos a distribuição é feita conforme o interesse da legenda.

A inflação das eleições!

Em Goiânia, os postulantes ao Paço Municipal podem gastar até R$ 8,4 milhões no 1º turno e R$ 3,3 milhões no 2º. O limite estabelecido aos candidatos à Câmara de Vereadores é de R$ 768 mil. Com estes valores não se elege um vereador. Sobram dois caminhos:  cooptar candidatos bons de votos de outros partidos, ou investir em candidatos do mesmo partido. Aí vale tudo, pois cada voto obtido vai para a conta do partido, ou seja, para aqueles que os partidos querem eleger.

Para o partido também vai o  fundo eleitoral, quase R$ 5 bilhões,  valores distribuídos pelo imposto pago pelo cidadão,  A destinação dos valores  são de  acordo com o tamanho e representatividade  da legenda. Assim, quem tem mais políticos eleitos recebe mais do fundo partidário. Então aquela lorota de que “fui eleito sem gastar” é balela. O partido pode “dar votos” para estes candidatos mas para ter estes votos investe pesado.

Além destes exorbitantes valores, os candidatos também tem  que investir nas próprias campanhas e o dinheiro sai do bolso do candidato.

A Justiça cega!

O TSE apenas estipula o valor que pode ser gasto por cada candidato, mas não fiscaliza os excessos. Desta forma, o candidato gasta muito acima do determinado e, em poucas situações, são punidos por isto. A frouxidão da justiça proíbe a compra de votos, mas permite a contratação de quantos “balançadores de bandeiras puder contratar” com o compromisso de receber o voto do contratado. Em média, cada “balançador de bandeiras nas ruas” recebe um salário mínimo por mês.

Também os candidatos bancam reuniões, carreatas, passeatas e outras atividades. Soma-se a isto a contratação de politiqueiros profissionais, uma das partes mais caras. Politiqueiros  profissionais são aqueles que detém um número expressivo de eleitores que são remunerados a partir do valor que se paga ao politiqueiro.

Certa vez, um amigo candidato me chamou para participar de uma reunião na casa destes politiqueiros. Curioso, fui. Havia aproximadamente umas 40 pessoas. Depois que o candidato “encheu os ouvidos da turma com promessas utópicas”, um participante perguntou quanto iria ganhar pelo seu voto. Todos se manifestaram depois, dizendo que “por menos de que R$ 500,00 não venderia o voto dele.”  E assim são as eleições no Brasil: o acordo entre o corrupto e o corruptor, com raríssimas exceções.

Desta forma,  com menos de R$ 2 milhões não se ganha as eleições. Mas em quatro anos não se recupera o valor investido!  No entanto os candidatos com mais chances de vencer, são bancados em grande parte pela “banda podre e   corrupta do empresariado.”  Representantes dos seguimentos, como do comercio, do ramo imobiliário, postos de gasolina e os demais, investem fortunas nas campanhas com o compromisso do eleito defender os interesses destas classes.

Este é os bastidores das eleições em Goiânia. Dos 690 candidatos, apenas 37 serão eleitos, a grande maioria reeleitos. O restante são funcionários públicos,  que ganham licença remunerada para participar, alguns lunáticos, na esperança de vencer e espertalhões que faturam alguns trocados.   O resto é  “TUDO COMO DANTES NO QUARTEL DE ABRANTES”, como regista Orlando Neves, no seu Dicionário de Expressões Correntes [Editorial Notícias, Lisboa], que assim se lhe refere: «Diz-se do que permanece sempre na mesma, sem alteração.». 

 

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