PORTO ALEGRE – Uma mulher de 33 anos e um homem de 68 anos foram presos nesta quarta-feira, 8, suspeitos de manter uma menina de 13 anos em uma situação de escravidão sexual. O caso aconteceu em Camboriú, em Santa Catarina, e a garota, sobrinha da mulher detida, teria sido obrigada pela família a viver maritalmente com o idoso. De acordo com o Conselho Tutelar do município, a avó paterna e o pai da menina também estariam envolvidos diretamente no crime.
A tia foi indiciada por exploração sexual de adolescente, os pais, por omissão, e o idoso, por estupro de vulnerável e favorecimento à prostituição.
O caso veio à tona quando o Conselho Tutelar verificava a situação dos irmãos da adolescente que não estavam frequentando o colégio “Notei a falta das crianças na escola e fomos atrás e encontramos ela, que deveria estar morando em Itajaí com a avó e com a tia, vivendo em situação marital com esse senhor”, relata o conselheiro tutelar responsável pelo caso, Diego Raphael Rocha Pereira. De acordo com ele, o caso das crianças com idades entre 3 e 7 anos já vinha sendo monitorado. “A situação das crianças é mais antiga, atuamos há mais de um ano tentando inserir na rede (de ensino), e a da menina é mais recente.”
Segundo o delegado Paulo Freyesleben, responsável pelas investigações, os pais também foram indiciados por terem conhecimento do caso. Ele relata que os abusos começaram ainda em julho de 2022, antes de a menina passar a viver com o idoso.
Pereira, que acompanha o caso da família há cerca de um ano, relata uma situação que foi se agravando com o tempo. Inicialmente, a menina que hoje tem 13 anos vivia com a avó em Itajaí, outra cidade litorânea do Estado. O idoso, que é dono de uma borracharia, já era próximo da família e conhecido na região por “ajudar” as pessoas mais vulneráveis. “Vimos um movimento de muita parceria desse senhor com a família”, relembra o conselheiro, deixando claro que o homem de 68 anos tinha acesso facilitado aos familiares e demonstrou interesse em ter a menina de 13 anos como sua “esposa”.
De acordo com Pereira, a menina só saiu de Itajaí quando os familiares decidiram atender o desejo do idoso, há cerca de três meses. “Quando a família teve a ideia de comercializar essa garota é que ela foi trazida para Camboriú”, diz. A decisão, afirmou, passou pela tia e a avó paterna, que seriam as responsáveis por agenciar a menina, mas que outros membros da família estavam cientes da situação e a obrigavam a atender sexualmente o homem. “A tia paterna e a avó paterna que agenciavam, junto com o pai, mas todos se beneficiavam.”
Freyesleben confirma que o restante da família estava ciente dos abusos, que eram realizados em troca dos benefícios financeiros. “Inclusive a avó e os pais foram indiciados pela Polícia Civil e denunciados pelo Ministério Público”, diz. Por decisão judicial, apenas a tia da menina e o idoso foram presos no momento.
O conselheiro foi o responsável por fazer o primeiro atendimento à menina, e relata a ter encontrado “muito sensibilizada, em sofrimento muito grande porque a família pedia pra que ela fizesse isso e ela não se sentia bem”. “Ela está com bastante problemas emocionais.” Tanto a menina quanto os irmãos foram levados para abrigos. O conselheiro classifica a situação da menina como “escravidão sexual mediante pagamento a família.”
Não há ainda um levantamento de quanto o homem pagava aos familiares para poder ter relações sexuais com a menina. Pereira conta que os indícios mostram se tratar de valores pequenos, como cestas básicas e mesmo um celular simples. “Ele não dava presentes caros, ele mantinha essa família.