Documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do governo federal, enviados à Polícia Civil, revelam que Deolane e outros investigados realizaram transações financeiras atípicas envolvendo 34 empresas e diversas pessoas físicas, utilizando depósitos fracionados em dinheiro vivo.
Os documentos oficiais apontam que o “dinheiro sujo” foi lavado “com a aquisição de imóveis e carros de luxo”, além de “loterias”. Os autos afirmam que foram encontrados “fundados indícios” da prática recorrente “do crime de lavagem de dinheiro por parte dos investigados, ao longo dos últimos anos”.
Ostentação
Um dos indicadores que reforçam as suspeitas da polícia é a ostentação de Deolane em suas redes sociais. Com mais de 21 milhões de seguidores, o perfil da influenciadora exibe carros de luxo, viagens frequentes, roupas e acessórios de marca , e, de forma geral, um estilo de vida mais extravagante.
Deolane Bezerra foi presa na última semana e teve a oportunidade de responder às acusações em liberdade. Entretanto, sua permanência fora da prisão foi breve: após descumprir uma das medidas cautelares impostas pela Justiça do Recife, que proibia qualquer contato com a imprensa, ela foi colocada novamente sob custódia. Mesmo após deixar a prisão, na segunda-feira (9/9), Deolane concedeu entrevistas na porta do presídio, violando a restrição judicial poucos instantes depois de ser solta.
A prisão de Deolane, assim como a de sua mãe, Solange Alves Bezerra Santos, de 55 anos, ocorreu no dia 4 de setembro, em cumprimento a mandados de prisão preventiva expedidos pela Polícia Civil durante a Operação ‘Integration’. A investigação, que resultou de uma denúncia do Ministério Público de Pernambuco, aponta que a associação entre mãe e filha “reforça os indícios” de sua participação em um esquema criminoso ligado a jogos de apostas ilegais.
Prisão domiciliar
A defesa de Deolane Bezerra e de sua mãe, Solange Alves Bezerra Santos, apresentou um pedido de habeas corpus para que ambas pudessem responder ao processo em liberdade. Em uma decisão que concedeu prisão domiciliar à influenciadora, mas manteve Solange atrás das grades, o desembargador Eduardo Guilliod Maranhão sustentou as denúncias de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
O desembargador, ao conceder inicialmente a prisão domiciliar, baseou-se no artigo 318A do Código Penal e em um habeas corpus coletivo expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018, que substitui a prisão preventiva por domiciliar para gestantes, lactantes e mães de crianças com até 12 anos ou responsáveis por pessoas com deficiência.
Coaf
A Polícia Civil de Pernambuco se baseou em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para investigar a possível lavagem de dinheiro envolvendo Deolane Bezerra e sua mãe, Solange Alves Bezerra Santos. O ponto de partida foi uma conta bancária aberta por Solange em novembro de 2022. Pouco tempo depois, em dezembro, as movimentações financeiras da família Bezerra passaram a ser alvo de investigação.
Esse relatório foi fundamental para que a polícia pudesse identificar e conectar os envolvidos no esquema. Mesmo sem registros profissionais formais, a investigação revelou que Solange aparecia como sócia em duas empresas, uma de confecção de roupas e outra no setor de cobranças, o que aumentou as suspeitas sobre sua participação no esquema de lavagem de dinheiro.
“Ela movimentava valores acima de sua capacidade financeira, com alta fragmentação nas contrapartes e rápida evasão de recursos”, diz documento judicial, que reforça, ainda, o suposto envolvimento da mãe de Deolane com “tráfico de drogas e sonegação fiscal”.