Ministério da Saúde celebra crescimento da cobertura vacinal infantil
Dados oficiais mostram que a BCG, que previne contra a tuberculose, ultrapassou a meta dos 90%. A primeira dose da tríplice viral (que previne contra o sarampo, caxumba e rubéola) atingiu a cobertura de 95,69%, ultrapassando a meta de 95%. Por fim, a polio oral (a conhecida gotinha que evita a poliomielite) também ultrapassou a marca estipulada de 95% de cobertura vacinal.
Os dados foram atualizados pelo MS e trazem informações até o dia 30 de novembro. Comparando com o último ano da gestão Bolsonaro, que publicamente questionou a eficácia de vacinas, houve aumento médio de 17 pontos percentuais em 15 dos 16 imunizantes disponíveis no SUS.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destaca o resultado positivo: “Estamos felizes não apenas pelo crescimento de 15 das 16 vacinas infantis, como também por já termos superado as metas em três delas: na BCG, no reforço da pólio e na primeira dose de tríplice viral”.
Aumento na imunização
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), disse, ao G1, que o Brasil não vinha cumprindo a meta de cobertura de vacinas infantis, como a da pólio e a tríplice viral, desde 2015-2016. Foi neste período que o Brasil começou a registrar queda na aplicação dos imunizantes.
O especialista reforça: “Vínhamos em uma tendência de queda e a pandemia aumentou isso. Estamos quase 10 anos com meta abaixo para as vacinas. Interrompemos a queda em 2022, crescemos em 2023 e crescemos ainda mais em 2024”.
Kfouri destaca que uma população imunizada se mostra resistência ao retorno das doenças mesmo que estrangeiros infectados venham ao país. “Quando você consegue eliminar uma doença, você tem um número grande de vacinados, o que impede o vírus de circular, mesmo que alguém de fora entre no país com o vírus. Não há quem transmita porque está todo mundo vacinado”, concluiu.
O infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, Celso Granato, explica ao G1 possível motivação para queda na procura pelos imunizantes. “As pessoas passaram a acreditar que talvez não existissem mais essas doenças [pois a cobertura vacinal era alta antes], que elas estivessem extintas. Mas não adianta você achar que, porque não tem mais aqui [no Brasil], num certo momento ela não vai voltar”, compartilhou.
Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto Emílio Ribas e diretora do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), reforça a posição de Kfouri sobre a importância da imunização para manter o país livre de determinadas doenças. Ao Portal G1, ela afirma que a “retomada da vacinação infantil é um passo fundamental para pensarmos em uma sociedade mais saudável”. A especialista lembr ainda que o país já chegou a eliminar a poliomielite e o sarampo.
Vacinas injetáveis e fim do sarampo
Em novembro, o Brasil deixou de aplicar a vacina oral contra poliomielite (VOP), conhecida como “vacina de gotinha”. A mudança segue recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e reflete uma tendência global. A VOP, que era usada como reforço em crianças de 15 meses a 4 anos, será substituída pelo esquema exclusivo com a vacina injetável (VIP).
A poliomielite, ou paralisia infantil, é uma doença viral grave que pode causar incapacidades permanentes. O Brasil está livre de casos desde 1989, mas a cobertura vacinal tem apresentado quedas preocupantes nos últimos anos, o que aumenta o risco de reintrodução do vírus.
Enquanto isso, o país celebra um marco importante: a recuperação do título de nação livre do sarampo, perdido em 2019 após surtos da doença. Em junho, o Brasil completou dois anos sem casos de transmissão local, sendo o último registro no Amapá, em 2022. Desde então, todos os casos detectados foram importados de outros países.
A recertificação da OMS exigiu do Brasil a comprovação de que o vírus do sarampo não circulou no território por pelo menos um ano. O esforço incluiu a ampliação da vacinação de rotina, o fortalecimento da vigilância epidemiológica e ações rápidas para conter casos trazidos do exterior.
O sarampo, embora prevenível por vacina, continua sendo uma das doenças mais contagiosas, com uma taxa de transmissão impressionante: uma pessoa infectada pode contaminar até 18 outras. A doença se espalha por meio de gotículas liberadas ao tossir, falar ou respirar, e pode levar a complicações graves, incluindo a morte.
As recentes mudanças no combate à pólio e os avanços no controle do sarampo reforçam a importância de políticas públicas voltadas à imunização, especialmente em tempos de hesitação vacinal crescente.