A queda de braço entre o governo federal e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi tema de conversas ao longo do jantar de aniversário do PT, promovido ontem à beira do Lago Paranoá, em Brasília. Três lideranças petistas relataram à reportagem que fizeram chegar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos últimos dias a avaliação de que é momento de deixar as críticas ao presidente do BC com os parlamentares da base e “despersonificar” o ataque aos juros altos.
A preocupação do PT é de, na ânsia de criticar Campos Neto, acabar dando impulso político a ele. O alerta foi ligado após a comunicação do partido identificar um salto de buscas no Google por “quem é Campos Neto”. “Daqui para frente é bater sem citar o nome”, resumiu um parlamentar com cargo diretivo na legenda.
Como mostrou o Estadão, ministros já haviam orientado o presidente Lula a baixar a temperatura no confronto contra o presidente do BC. Em seus dois mandatos anteriores, Lula terceirizava os ataques – ora na figura do então vice-presidente José Alencar, ora com Guido Mantega, ministro da Fazenda. Agora, Lula vem ele mesmo atirando os torpedos na direção do banco.
No jantar, a avaliação que circulava era de que Campos Neto foi bem no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite da última segunda-feira: conseguiu se defender, reduziu as tensões com o governo e fez acenos de diálogo a Lula. “Nossa pressão deu certo e, por isso, tem de continuar. Ele recuou. Mas Lula não pode mais ir para o ataque, um presidente da República não precisa disso. Foi até onde deu e está ótimo”, afirmou um outro líder, que prometeu “matar no peito” a ofensiva sobre Campos Neto no Congresso.
Seja como for, o “conselho” apresentado por aliados a Lula já deu os primeiros sinais. Na última segunda-feira, na comemoração do aniversário do PT com a militância, o presidente focou na história do partido e terceirizou o tema dos juros para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.