1 – No que concerne ao governo Lula, a pesquisa Ipec divulgada na semana passada apontou uma aprovação de 53% (contra 40% de desaprovação) e uma avaliação expressamente positiva (ótimo/bom) de 37% (contra 28% de ruim/péssimo), com 32% classificando o governo como regular.
2 – Temos no levantamento os números relativos às duas formas de medir o desempenho do presidente e de seu governo, uma dicotômica e outra através de uma escala. É bobagem afirmar-se que as duas perguntas mediriam coisas diferentes – uma o desempenho do governo, a outra especificamente a atuação do presidente. Quem duvidar basta fazer a pergunta de “avaliação” com a mesma redação da questão de “aprovação”, ou vice-versa. Verá que basicamente serão os mesmos resultados nas duas formulações. O problema não é de redação, é de alternativas de respostas que são dadas aos entrevistados. Na resposta dos que “aprovam” está contido um gradiente de atitudes, da forte aprovação à aprovação pouco entusiasmada.
3 – Dos cinco principais jornais, O Globo, Valor e Correio Braziliense divulgaram corretamente. chamando de aprovação os números da pergunta de “aprovação”. Já Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo anunciaram como aprovação de Lula o que era apenas seu “ótimo/bom”. Isso não é um mero detalhe de informação jornalística, ou uma questão de opção dos editores. É erro. E esse erro tem consequências.
4 – Na vida prática, na mente de um cidadão de qualquer campo político, saber se na pesquisa mais recente o presidente e seu governo tiveram 37 ou 53 porcento de aprovação faz uma enorme diferença. Aliás, para o Congresso e os políticos em geral também. Em artigo recente (15/5) publicado no Pulso de O Globo –“Avaliação ou aprovação? Um equivoco que vem de longe”– tive a oportunidade de explicar a origem dessa confusão, e comentar como isso poderia ficar bem esclarecido, bastando os institutos divulgarem o cruzamento das respostas às duas perguntas. Exemplificando, mostrei que na última pesquisa do IPESPE o governo Lula era “aprovado” por 45% dos que o avaliavam como “regular”; outros 32% desse mesmo contingente o “desaprovavam”; e 23% não responderam.
Por fim, substantivamente, a pesquisa traz ao governo um sinal de alerta: sua aprovação caiu de 57% em março para 53% no início de junho. Quatro pontos que estariam no limite da margem de erro das duas medições, mas de fato devem ser levados em conta pelo seu valor de face. Temos uma taxa de declínio mensal de 1,33 ptos, com sua desaprovação evoluindo simetricamente.
O alerta desse levantamento, de outro lado, não deve obscurecer a percepção de que a imagem do presidente e de seu governo ainda se encontra em uma situação bastante confortável. Nos Estados Unidos, Joe Biden candidato à reeleição com 38% de aprovação, invejaria os 53% de Lula. Porém, mais importante é o seguinte exercício comparativo. Os 53% de aprovação de Lula, em amostra representativa de todo o eleitorado, estão 14 pontos acima dos 39% arredondados que ele obteve no segundo turno no mesmo universo (que nos válidos resultaram nos 51% do Tribunal Superior Eleitoral). Número dois pontos acima dos 37% de Ótimo/Bom, a avaliação “expressamente positiva” – essa a designação adequada- trazidos pelo IPEC. Quanto à desaprovação (40%), e à avaliação R/P – expressamente negativa (29%), elas se situam, a primeira num patamar três pontos acima dos 37% que votaram em Bolsonaro no segundo turno; e a segunda oito pontos abaixo. Lembrando que pesquisa se compara com o total do eleitorado, não com votos válidos.
Ou seja, simplificando: a oposição tem um tamanho parecido com o do ex-presidente na eleição do ano passado, ao passo que Lula tem hoje apoio maior na opinião pública do que obteve nas urnas. Até esse momento, não foi divulgado o relatório completo da pesquisa, por isso só me é possível fazer o cotejo do tamanho dos contingentes. Se a oposição que o desaprova tem o tamanho aproximado de Bolsonaro nas urnas, como Lula pode ter expandido seu apoio? Teoricamente, afora a “troca” residual – bolsonaristas de 2022 que agora aprovam Lula, e lulistas daquele momento que agora o desaprovam – a maior parte da explicação provém daqueles 24% que se abstiveram na eleição passada ou votaram branco/nulo. É, provavelmente, desses quase 38 milhões de eleitores, a maioria pobre, que emerge esse apoio adicional ao presidente.