Quando Bolsonaro perdeu o poder de Presidente da Republica, também perdeu a blindagem que tinha e que fazia com que toda e qualquer denúncia fosse arquivada ou esquecida. Isto porque ser Presidente da República é um salvo conduto, o chamado foro privilegiado.
Lembremos alguns fatos que se perderam no tempo:
– O esquema das “rachadinhas”, no gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A denúncia de que parte dos salários pagos aos servidores, voltavam para o filho do presidente;
– O fato de um delegado da Polícia Federal ter avisado antes, Flávio Bolsonaro, de que haveria uma operação da PF;
– A reunião com ministros, com a presença do então ministro da justiça Sergio Moro, onde Bolsonaro exigia que a PF devia avisá-lo, com antecedência, das operações, que culminou com a saída de Moro do Ministério;
– A loja de chocolates de Flávio Bolsonaro que movimentava em apenas um dia milhares de reais, inclusive com depósitos vultuosos de dinheiro em espécie;
– A compra de uma casa, por Flávio Bolsonaro, ao preço de R$ 3 milhões, sendo paga com dinheiro vivo;
– O caso Queiroz, que depositou mais de R$ 80.000,00 na conta de Michele Bolsonaro, além de pagar as faturas do cartão de credito e outras contas da ex-primeira dama. Queiroz, provou, ser o “caixa” da família do ex-presidente, igual ao marqueteiro Marcos Valério, no mensalão, que distribuía verbas à parlamentares, usando uma agência de publicidade como meio de lavar dinheiro;
– Os atos ante democráticos frequentado pelo ex-presidente, onde fazia discursos contra instituições, como o STF, TSE e outros;
– Quem não se lembra da CPI da COVID? Todos os depoentes e convidados creditaram a morte de milhares de pessoas pela demora em reconhecer a fatalidade da doença e também a demora na compra das vacinas, e os milhões de reais gastos pelo governo na compra do KIT COVID, sem qualquer comprovação cientifica para curar ou prevenir a doença;
Estes são alguns dos fatos que geraram dezenas de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, todos negados e arquivados pelo ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e depois por Lira.
Bolsonaro também tinha na Procuradoria Geral da República Augusto Aras, o “engavetador Geral” que engavetou todas as denúncias que chegavam ao Ministério Público.
Desta forma, Bolsonaro e família não temiam nada e nem ninguém, pois o próprio ex-presidente dizia “que podia tudo.”
A casa caiu!
Bastou Bolsonaro deixar o governo e na mesma semana aconteceu a tentativa de Golpe. Instigados pelo ex-presidente, milhares de pessoas foram à Brasília tentar tomar o poder legitimo, conquistado democraticamente nas urnas e acabaram destruindo tudo no congresso, Supremo Tribunal Federal e também no Palácio onde Lula ficava. Os chamados atos do dia 8 de janeiro.
Ali começou a derrocada de Bolsonaro e seus “aloprados.” Se tivesse conseguido se reeleger, nada do que vimos hoje, teria tanta visibilidade. A derrota de Bolsonaro mostrou o despreparo do ex-presidente e seus auxiliares diretos. A cada ação deixavam marcas indeléveis de “batom na cueca.” Mostrando um amadorismo exemplar, como o de tentar retirar na Receita Federal joias, presentes recebidos em viagens internacionais e que, por força de lei, pertencem ao acervo do governo federal. Na ação do mensalão, o ministro do STF Gilmar Mendes dizia no caso do mensalão que “cada pena puxada saia uma galinha.” Já com Bolsonaro, cada pena puxada sai um galinheiro inteiro tamanha as provas que vão sendo colhidas.
O Mesmo modo operante.
O mensalão surgiu por um pagamento de propina de R$ 3 mil à um funcionário dos correios. A lava jato, aconteceu por pequenos esquemas dentro da Petrobras, cometidos por Paulo Roberto. Um ano antes da operação, Paulo Roberto foi entrevistado pela Rede Globo, sobre o esquema de desvios na empresa, e, após a matéria ser divulgada, sozinho e abandonado, Paulo Roberto disse que não “morreria sozinho.” Ninguém deu atenção ao aviso de Paulo Roberto e a lava jato levou Lula, empresários, políticos e empreiteiros para a cadeia.
O que está acontecendo mostra um amadorismo insólito ou excesso de certeza na impunidade. Vende relógio, compra relógio, devolve relógio; venda de joias, compra de joias, devolvem joias. A cada investigação mostra mais do que estavam investigando. A contratação de um hacker para tentar mostrar que as urnas eletrônicas são passiveis de fraudes, o que não conseguiu. O pior foi o ex-presidente Bolsonaro conversar com o hacker por mais de uma hora e prometer conseguir junto a OAB uma urna usada nas eleições eleitorais e que também é utilizada na votação para presidente da OAB. Bolsonaro também pediu ao hacker que assumisse a responsabilidade por alguns crimes, com a garantia de que, se fosse preso, daria um perdão ou mandaria “prender o juiz que mandasse prender o hacker.”
Bolsonaro, um pé na cadeia.
O ministro Alexandre de Moraes, muito cauteloso, não determinaria a prisão de Bolsonaro, mas poderia atender a um pedido da Policia Federal de prisão do ex-presidente, que já conseguiu um arsenal de provas contra o Bolsonaro, e, a cada dia, vão surgindo outros, culminado com a quebra do sigilo fiscal e telefônico dos envolvidos, inclusive da ex-primeira dama, Michele Bolsonaro, que usava um cartão de crédito no nome de outra pessoa para gastar.
Já é certa a delação premiada do Hacker, Walter Delgatti, que, muito bem orientado pelos advogados, nada disse à Polícia Federal, no primeiro depoimento, e desnudou Bolsonaro na CPI das joias. Mas porque o Hacker fez isto? É que uma delação premiada para a Policia Federal, não tem o mesmo peso e o perdão do que para o Ministério Público Federal.
Um a um vão sendo presos e denunciando todo o esquema, imputando a Bolsonaro a ordem para cometerem tantas lambanças. A última parede que está para ruir: é a do ajudante de ordem de Bolsonaro, o Tenente Coronel Mauro Cid, que para não ter o pai preso, promete tudo fazer.
Diante de tanto amadorismo, somente uma reeleição de Bolsonaro poderia evitar tudo o que está acontecendo. Como não houve, Bolsonaro responderá por todos crimes praticados por ele e em nome dele. É como diz o ditado: “político sem poder é igual a cobra sem veneno.”
Pode ser que ao ler este artigo, vários fatos novos já tenham acontecido tamanha a lambança dos aloprados de Bolsonaro.