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Petrobras muda tudo

Maior empresa brasileira e vitrine de todos os governos (para bem e para o mal) desde 1953, quando foi criada, a Petrobras voltou a espelhar os rumos do primeiro semestre do governo Lula III nas últimas semanas. Na noite de sexta-feira (28), o Conselho de Administração apresentou sua nova política de distribuição de dividendos.

O percentual de remuneração caiu de 60% para 45% do fluxo de caixa livre. Para se ter uma ideia, em 2022, a petroleiras pagaram entre 12% e 60% do fluxo em dividendos, com a Petrobras no topo ao lado BHP, segundo a Janus Henderson. Para acompanhar, a Petrobras ampliou a definição de investimentos para incluir a recompra de ações.

Ruim? Nem tanto. Por considerar que a mudança foi mais branda que o esperada, os investidores ficaram eufóricos. Após o anúncio, as ações dispararam e, ao final do dia, os papéis ordinários fecharam com alta de 5,26%, a R$ 34,81, melhor performance da B3 entre as ações mais negociadas. Já as preferenciais (PN) subiram 4,5%, a R$ 31,1. Isso ajudou a puxar para cima o Ibovespa, que encerrou o mês de julho com ganhos de 3%.

Além de mudar o percentual de remuneração aos acionistas, os critérios em que a estatal distribuirá dividendos também mudaram. A empresa definiu a remuneração mínima de US$ 4 bilhões por ano quando o preço médio do barril de petróleo tipo Brent for superior a US$ 40.

A distribuição de 45% do fluxo de caixa livre só será aplicada quando a dívida bruta da Petrobras for igual ou inferior ao nível máximo de endividamento definido no Plano Estratégico 2024-2028 e quando a companhia obtiver lucro em um trimestre. Os dividendos serão pagos a cada três meses. A nova política agradou a gregos e troianos porque, em partes, já era esperada. Em 2022, a estatal distribuiu R$ 215,8 bilhões em remuneração aos acionistas, inclusive ao governo federal.

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras© Fornecido por IstoÉ Dinheiro

“Não vamos deixar ninguém sem dividendos, desassistido. Mas há uma diferença enorme entre o exigido por lei e o modelo atual. Há um ponto aí no meio que dá para deixar todo mundo confortável.”

Jean Paul Prates presidente da Petrobras

De acordo com a Petrobras, a nova política será aplicada ao resultado do segundo trimestre de 2023. Em nota, a petroleira informou que as regras têm o objetivo de “promover a previsibilidade do fluxo de pagamentos de proventos aos acionistas, ao mesmo tempo em que garante a perenidade e a sustentabilidade financeira de curto, médio e longo prazos”.

Na questão da recompra de ações, a Petrobras disse que a prática está alinhada ao mercado internacional, “em complemento ao pagamento de dividendos”. No mundo, as petroleiras nadam de braçada. Segundo a consultoria Janus Henderson, 90% dos dividendos pagos no mundo vieram delas.

E para evitar ruídos, o próprio presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, entrou em cena para evitar problemas de imagem para a estatal ou de Lula. “Não vamos deixar ninguém sem dividendos, desassistido. Mas há uma diferença enorme entre o exigido por lei e o modelo atual, um ponto aí no meio que dá para deixar todo mundo confortável”, afirmou Prates. “É necessário que a Petrobras tenha alguma flexibilidade no pagamento de dividendos e a mudança na política será parcimoniosa.”

A fala de Prates foi bem recebida. Para o economista Vagner Soares, assessor de investimentos na Sollus Investimentos, ao não colocar viés político em sua fala, ele causou boa impressão. “As declarações tinham tom técnico e sem viés político”, afirmou o economista. “Ficou mais evidente que a empresa vai operar com um foco de eficiência financeira e avançando sempre com projetos que buscam rentabilidade.”

No ano passado, a estatal pagou dividendos em três ocasiões, com retorno recorde de 67,77% por ação. Quem tinha R$ 1 mil em ações da Petrobras no fim de 2021, por exemplo, recebeu R$ 677,70 no ano passado. No primeiro trimestre deste ano, sob o novo governo, a estatal não mudou a política e distribuiu mais R$ 24,7 bilhões aos acionistas.

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