Ministro do STF, Gilmar Mendes, denuncia que “a Lava Jato trabalhou para eleger Bolsonaro.”
Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes concedeu uma entrevista à BBC News Brasil que pode, inclusive, ensejar processos judiciais contra integrantes da Operação Lava Jato e contra si próprio. Porque diz coisas da maior gravidade, sobretudo porque se trata de um ministro da corte suprema do Brasil.
Gilmar Mendes frisa que a Lava Jato, nas suas investigações e condenações, na associação entre Sergio Moro, quando magistrado, e procuradores de justiça, como Deltan Dallagnol, “cometeu suicídio”. A operação, frisa, descolou-se totalmente “da estrutura institucional existente”. O juiz teria agido como “promotor e não se comportou de maneira “imparcial”.
A partir de certo momento, sublinha Gilmar Mendes, a Lava Jato “pretendeu se tornar um movimento político, senão até um partido político. Ela pretendeu fazer reformas institucionais”.
Em 2018, segundo o ex-presidente do Supremo, “a Lava Jato tinha candidato e tinha programa no processo eleitoral. E atuou, inclusive, para perturbar o Brasil em termos institucionais”. Ao patrocinar um “acordo” com Joesley Batista, para que o empresário gravasse o presidente Michel Temer, supostamente defendendo uma proteção para o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, “notoriamente”, assinala Gilmar Mendes, “se tratava de uma iniciativa para derrubar o governo. Era uma ação política”.
“Depois a Lava Jato atua na prisão do Lula. Depois, prestes à eleição, divulga o chamado depoimento ou delação do [Antonio] Palocci, tentando influenciar o processo eleitoral, depois o Moro vai para o governo Bolsonaro… Portanto eles não só apoiaram como depois passaram a integrar o governo Bolsonaro. Tudo isso indica uma identidade programática entre o movimento e o bolsonarismo”, denuncia Gilmar Mendes.
“A Lava Jato (…) se converteu num movimento político e passou a usar o processo-crime para definir eleições”, postula Gilmar Mendes. “O lavajatismo pretende se tornar um tipo de corrente política.”
“Perdão” para a máquina corrupta?
Cabe uma pergunta: Gilmar Mendes, um magistrado do mais competentes e decentes na defesa do Estado de Direito, não estaria, também, fazendo política, ainda que não partidária? É possível combater quadrilhas que assaltam e controlam o Estado sem “pisar”, nem que seja de leve, no caráter estrito das leis? Os possíveis “crimes” cometidos pelos procuradores e pelo juiz seriam tão graves quanto os crimes de corrupção cometidos por políticos, executivos e empresários?
Não estaria em jogo um grande “perdão” para a máquina que azeitou a corrupção sistêmica no país nos últimos anos (e não apenas nos governos do PT)?
Fonte: Jornal Opção