Transporte Coletivo: Conveniência ou Calvário Compartilhado?

Outro dia começa e algum João ou Maria se preparam para suas refeições matinais com um pão dormido ou apenas o café básico servido em um copo de requeijão que já é parte integrante da louça familiar há algum tempo.

Ainda sob a penumbra da madrugada, homens e mulheres deixam suas casas em direção ao ponto de ônibus, que muitas vezes não passa de um poste pintado com listras amarelas e pretas para sinalizar seu propósito. É neste momento que se inicia o sofrimento diário e compartilhado.

Em algum lugar, horas antes, motoristas dão partida nos veículos de transporte coletivo que, infelizmente, oferecerão um serviço de baixa qualidade aos usuários. São veículos antigos, carentes de manutenção adequada e, segundo a opinião do autor, com pneus frequentemente desgastados ou perto disso. A estrutura interna pode estar comprometida, enquanto a carroceria apresenta sinais de ferrugem e deterioração em várias partes.

É irônico observar a situação do transporte coletivo em Goiânia. De um lado, as autoridades públicas afirmam que tudo está ótimo e funcionando perfeitamente. Nas propagandas, exibem veículos mais novos e bem cuidados para corroborar seus discursos. Do outro lado, estão os usuários que vivenciam diariamente a realidade distante dessas afirmações. E, no meio disso, a RMTC alega estar oferecendo o melhor serviço possível para Goiânia e sua região metropolitana.

Essa discrepância entre discursos e promessas infundadas prejudica os usuários, que não têm muitas alternativas. Se pudessem, muitos optariam por uma moto usada, bicicleta, ir a pé ou pegar carona, evitando o transporte coletivo disponibilizado. Quantas pessoas realmente apreciam utilizar o transporte coletivo em Goiânia e região metropolitana? Provavelmente, poucas ou nenhuma manifestariam satisfação.

Outro contraste significativo está nos terminais, que apresentam uma arquitetura moderna, aumentando ainda mais o abismo entre o antigo e o novo, neste caso, os ônibus velhos e as novas construções. São estruturas suntuosas que encantam quem passa de carro e até mesmo corroboram as afirmações da RMTC e do poder público. Essa situação pode levar a crer que a população é ingrata por utilizar uma infraestrutura tão bela e ainda assim se queixar.

De tempos em tempos, somos confrontados com notícias sobre a violência que assola quem depende do transporte coletivo na capital. Assaltos, tentativas de estupro, homicídios e a tortura imposta aos passageiros que se apertam nos ônibus que circulam por Goiânia e região metropolitana.

Se os ônibus estão sempre cheios, é porque, por alguma razão, não há veículos suficientes para atender à demanda de passageiros. Superlotação é comum nos horários de pico, enquanto nos demais momentos parece ocorrer uma mágica. Usuários expressam suas queixas em programas de emissoras como TV Record, TV Anhanguera, TV Goiânia e outras menores, relatando o sofrimento diário. Na tela, os apresentadores descrevem essa dura realidade em textos bem elaborados, enquanto representantes do poder público oferecem desculpas, solicitam prazos e, às vezes, distorcem a verdade apenas para preencher o tempo concedido pela mídia. Mas nada parece mudar.

Houve um tempo em que Goiânia era um exemplo de qualidade no transporte coletivo para o Brasil. Os goianienses sentiam orgulho em afirmar que usavam ônibus novos, trocados a cada três ou quatro anos. Hoje, muitos desses veículos, com quase uma década de uso, desfilam descaso, perigo e sofrimento pelas ruas e avenidas. O cenário atual não é favorável para quem depende do transporte coletivo.

Senhores responsáveis pelo sistema de transporte coletivo de Goiânia e região metropolitana, não adianta produzir propagandas espetaculares tentando contradizer as dificuldades enfrentadas pelos usuários diariamente. Não façam isso, pois a população merece respeito – são pais, mães, jovens, adolescentes, crianças e idosos que precisam ser valorizados.

Vale lembrar que, se o Estado e os municípios subsidiam as tarifas de ônibus, é necessário que haja coragem para exigir um serviço de qualidade. Afinal, o transporte coletivo é uma concessão pública. Se o modelo atual não é viável para os empresários, eles devem buscar alternativas, seja mudando de local ou de ramo de atuação.

Luiz Cláudio do Nascimento Cavalcante
Assessor Parlamentar – Câmara Municipal de Goiânia
Servidor Público do Estado de Goiás (Assistente em Comunicação)
Membro da Executiva do Sindicato dos Jornalistas de Goiás – SindJor/GO